Leia Após a Publicidade:
Fenômeno experimentou enfraquecimento no começo deste inverno e agora ganha força com a chegada de águas mais frias
Publicidade:
De acordo com o último boletim da Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera (NOAA), dos Estados Unidos, a anomalia da temperatura da superfície do mar no Pacífico Equatorial Central, a denominada região Niño 3.4, foi de -0,7ºC na última semana. O valor está na faixa de La Niña fraca, que vai de -0,5ºC a -0,9ºC, e aponta um maior resfriamento em relação à metade de julho, quando a anomalia chegou a -0,5ºC, limite da neutralidade. Esta é a região do oceano usada para definir oficialmente se há El Niño ou La Niña, portanto a mais atentamente monitorada. Já no Pacífico Equatorial Leste, a denominada região Niño 1+2, perto das costas do Equador e do Peru, a anomalia de temperatura da superfície do mar na última semana foi de -1,0ºC, marca que está no limite inferior da faixa de intensidade moderada que vai de -1,0ºC a -1,4ºC. Tal área do Pacífico tem grande correlação com a chuva no Sul do Brasil durante os meses do verão com maior probabilidade de estiagem se estiver em território negativo e maior chance de chuva perto ou acima da média se estiver em terreno positivo.
A maior anomalia negativa observada na última semana no Pacífico Equatorial Central decorre do crescimento de uma área de águas mais frias do que a média abaixo da superfície que já começa a produzir efeitos na superfície do oceano. Uma onda Kelvin trouxe águas mais quentes entre junho e julho que emergiram e foram responsáveis pelo enfraquecimento do fenômeno, mas seus efeitos já cessaram. O enfraquecimento foi, assim, em parte, devido a uma ligeira diminuição dos ventos alísios, os ventos predominantes de Leste a Oeste perto do Equador, na primeira quinzena de junho. Quando os ventos alísios enfraquecem, o resfriamento evaporativo impulsionado pelo vento diminui e a superfície aquece. Além disso, uma onda Kelvin bastante fraca, uma região de água mais quente que a média sob a superfície, se moveu de Oeste para Leste nos últimos meses, subindo gradualmente em direção à superfície.
Os ventos alísios se fortaleceram na segunda quinzena de junho e permanecem mais fortes do que a média. Isso ajuda a resfriar a superfície e pode contribuir para uma onda de ressurgência de Kelvin, uma região de água mais fria que a média abaixo da superfície que se move de Oeste para Leste. Trata-se de um sinal de que a circulação ampliada de Walker da La Niña, a resposta atmosférica à superfície do mar mais fria, ainda está presente e que o fenômeno tende a seguir atuando. LA NIÑA SEGUIRÁ NA PRIMAVERA O atual episódio de La Niña que já dura doi anos está longe de terminar no Pacífico Equatorial. O fenômeno seguirá atuando no que resta deste inverno e vai prosseguir durante a primavera, podendo se estender ao começo do verão de 2023. Os mais recentes dados dos modelos apontam a presença da La Niña no Pacífico durante todo o segundo semestre, compreendendo a primavera e o começo do próximo verão.
Conforme a última projeção da Universidade de Colúmbia, em parceria com a NOAA, para o trimestre agosto a outubro, há probabilidade de 68% de La Niña e 31% de neutralidade. De setembro a novembro, o trimestre da primavera, 70% de La Niña e 29% de probabilidade de neutralidade. Entre outubro a dezembro, 69% de La Niña e 29% de neutro. E entre novembro e janeiro, no período crítico para o milho, 63% de La Niña e 33% de neutralidade.
A La Niña foi responsável no último verão por uma estiagem que quebrou a safra agrícola nos três estados do Sul do Brasil e em parte do Mato Grosso do Sul com perdas de dezenas de bilhões de reais e uma queda acentuada do Produto Interno Bruto (PIB) agrícola. No outono, trouxe uma estação mais fria do que a média e contribuiu para a mais intensa onda de frio em maio no Brasil Central desde 1977 com geada até no Sul da região amazônica e em Brasília. No Nordeste, foi fator para as chuvas extremas no litoral da região. Embora a La Niña esteja no imaginário associada com seca no Sul do Brasil, o fenômeno costuma reduzir muito a chuva entre a segunda metade da primavera e o começo do outono na região. No final do outono, no inverno e começo da primavera, mesmo com La Niña, segue chovendo no Sul do país e muitas vezes com excessos que podem levar a cheias de rios e enchentes em algumas áreas, como 2022 está demonstrando. O QUE É LA NIÑA A La Niña se caracteriza pelo resfriamento das águas superficiais da faixa equatorial do Oceano Pacífico com a alteração do regime de vento na região que impacta o padrão de circulação geral da atmosfera em escala global, inclusive no Brasil. Quando há um evento de La Niña há uma tendência de a Terra esfriar ou na fase atual de apresentar aquecimento menor que haveria estivesse sob El Niño.