30/10/2024

MP denuncia médica por falsos diagnósticos de câncer de pele em Pato Branco

Médica Carolina Fernandes Biscaia Carminatti, de Pato Branco — Foto: Redes sociais
Médica Carolina Fernandes Biscaia Carminatti, de Pato Branco — Foto: Redes sociais

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O Ministério Público do Paraná (MP-PR) denunciou Carolina Fernandes Biscaia, médica de Pato Branco, pelos crimes de lesão corporal, estelionato, falsidade ideológica e prática ilegal da medicina. A denúncia, apresentada nesta segunda-feira (28), envolve 38 vítimas, acusando Biscaia de emitir diagnósticos falsos de câncer de pele e recomendar cirurgias desnecessárias. Cabe agora à Justiça decidir se aceita ou não a denúncia.

Investigação revela fraude em laudos médicos

O caso começou em março deste ano, após pacientes suspeitarem dos diagnósticos de câncer de pele fornecidos por Biscaia. Pelo menos 31 vítimas formalizaram denúncias à Polícia Civil (PC-PR), resultando no indiciamento da médica em 21 de outubro. Segundo o delegado Helder Lauria, responsável pela investigação, Biscaia teria enganado pacientes ao emitir laudos falsos e induzi-los a realizar procedimentos cirúrgicos imediatos.

“Todas as vítimas relataram uma forte pressão psicológica feita pela médica durante a consulta, para que fossem realizados os procedimentos ali no consultório, logo após o diagnóstico”, explicou Lauria. Ele destacou que a médica agia sozinha, manipulando pacientes em estado de vulnerabilidade emocional.

Esquema de falsificação

A investigação apurou que Biscaia examinava pintas e manchas dos pacientes, indicando que algumas poderiam ser cancerígenas. A médica então retirava material para análise e apresentava um laudo falso com diagnóstico de câncer, falsificado com auxílio de uma máquina de xerox no próprio consultório.

Além disso, documentos verdadeiros eram sobrepostos por cópias adulteradas, criando falsos laudos que simulavam diagnósticos graves. Essa manipulação resultou em prejuízos físicos e financeiros para as vítimas, que passaram por cirurgias e tratamentos desnecessários.

Punição e suspensão profissional

Em março, o Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR) aplicou uma “censura pública” à médica por anunciar especialidades que não possuía. Desde maio, ela está impedida de exercer a profissão por uma Interdição Cautelar Total de 180 dias, aprovada pelo Conselho Federal de Medicina. Em consulta pública no CRM-PR, não há registro de especialidades atribuídas a Biscaia, apesar de sua afirmação nas redes sociais de ser dermatologista.

Em nota, o advogado Valmor Antonio Weissheimer, que representa a médica, afirmou que ela ainda não foi intimada e que a defesa está preparada para esclarecer os fatos e exercer o direito ao contraditório.

Provas e denúncias dos pacientes

Áudios gravados por uma das vítimas revelaram conversas nas quais Biscaia reforçava a urgência dos procedimentos. Em um caso específico, a vítima gastou mais de R$ 5 mil em uma cirurgia desnecessária e hoje carrega uma cicatriz. Segundo a vítima, a fraude foi descoberta ao comparar o laudo falso com o documento original, obtido diretamente do laboratório.

Mulher passou por retirada de possível material cancerígeno após apresentação de falso laudo médico — Foto: Arquivo pessoal
Mulher passou por retirada de possível material cancerígeno após apresentação de falso laudo médico — Foto: Arquivo pessoal

As investigações continuam, e o CRM-PR ressalta que, caso sejam comprovadas violações à ética profissional, a médica poderá enfrentar penalidades que vão de advertência até a cassação de seu registro profissional.

Registro da profissional no Conselho Federal de Medicina — Foto: CRM

 

A denúncia reflete o impacto das ações da médica sobre a saúde e o psicológico dos pacientes, deixando marcas físicas e emocionais. A decisão judicial sobre o caso marcará um passo importante na proteção dos direitos dos pacientes e na ética profissional.